Dia 099 – Buenos Aires Darsena “E” > Puerto Madero Yacht Club
Percurso: Rio Paraná – Canais e Rio da Prata
Início: Buenos Aires, Darsena “E”, Navio aportado da Guarda Costeira, km 4, 34° 34.471’S 58° 22.767’W
Final: Buenos Aires, Puerto Madero, Yacht Club Argentino, km 0, 34° 35.767’S 58° 21.813’W
Percorrido hoje: 4.0 km
Total Acumulado: 3090.4 km
Chegada no Destino Final: Puerto Madero, Buenos Aires, Argentina
Alessandro – Acordamos um pouco mais tarde do que o habitual, pois hoje faltavam apenas 4 quilômetros e já estávamos nas águas abrigadas do porto. Marcamos a chegada no ponto zero, no Yacht Club Argentino, para as 13:00 horas. Apenas ficamos um pouco preocupados quando escutamos, através do aço da estrutura do navio, o chiado de chuva. Porém, quando saí lá fora o tempo estava apenas nublado. A chuva havia parado, soprava um pouco de vento e fazia muito frio. Carregamos a canoa com os equipamentos e saímos, desatracando do navio Martilla. Uma lancha da Prefeitura Naval veio fazer a escolta. Percorremos uma extensão de 4 quilômetros de porto, passando por imensos navios de carga. Foram os 4 quilômetros mais rápidos da viagem: Eu estava sentindo uma mistura de felicidade e tristeza, de conquista e ao mesmo tempo de despedida. Um veleiro passou por nós e seus tripulantes todos ficaram de pé e nos aplaudiram. Foi quando percebi que as minhas primeiras lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos. Estávamos no ponto zero! Remamos, e finalmente chegamos, até o mar! Os familiares e alguns amigos que estavam em barcos e na marina do Yacht Clube começaram a bater palmas. A lancha da prefeitura soou sua forte buzina! Nesse momento fizemos umas fotos com Buenos Aires ao fundo. (confira na galeria de fotos). Nos últimos metros, antes de encostarmos no pontão do Yacht Clube eu fiz o que havia prometido para o Carlos havia muito tempo: Joguei muita água nele com os remos e ele logo em seguida fez o mesmo. Foi, de maneira jocosa, uma maneira de descontar as muitas vezes que ele sem querer espirrou água gelada em mim quando eu remava sem camisa! Foi uma comemoração de nossa vitória! Recebemos até banho de champagne!
A pequena grande Ethel nos conduziu até o fim, em sua segurança de uma canoa que aguentou firme o tempo todo. Ondas, chuvas, pedras, areia, troncos! Éramos três entidades: dois homens e uma canoa, que venceram um desafio!
A viagem do Projeto Remar Até o Mar hoje chegou ao fim, mas o Projeto continua. Com todo o material coletado teremos muitos assuntos interessantes para apresentar e compartilhar com o público em geral. Seja através de livros, matérias na mídia, palestras e exposições. O que vivemos nos últimos 99 dias, e vários meses antes disso, na preparação, foi uma experiência que eu pessoalmente me sinto na obrigação de compartilhar e divulgar. Temos agora um material excelente que será usado no Remar Kids, com o qual realizaremos, apoiados pelo selo Educação, da Fundação Educar DPaschoal, palestras e apresentações para as crianças de escolas, mostrando e falando desse grande patrimônio que temos, os rios e a natureza e sua importância. Quero ter a oportunidade de falar com as crianças também da importância e da possibilidade de realizarmos sonhos nessa vida, de ajudar a despertar nela o quão importantes e fundamentais para a preservação deste nosso planeta elas são. Toda a viagem e seus aspectos educacionais estarão brevemente disponíveis no Remar Kids.
(Atualização em 2024: Infelizmente o Remar Kids nunca foi desenvolvido, pois não encontramos patrocinadores interessados em investir na iniciativa)
Foram 3090 km de viagem por rios. Fizemos todo o caminho que a água da chuva um dia já fez para chegar a desaguar no mar. Presenciamos belezas, mas também muitas marcas e feridas que nós, humanos, estamos deliberadamente fazendo nessa pequena, frágil, sensível e carente bolinha azul que boia no espaço.
Sou uma pessoa como qualquer outra que gosta de natureza, sem demagogia. Não sou ecologista. Sou uma pessoa comum, que preza o bom senso, que teve a oportunidade de conhecer e viver na pele a situação real de um dos milhares de exemplos do que estamos fazendo com o NOSSO meio ambiente. É triste. Mas espero que, qualquer um que teve a oportunidade de acompanhar a nossa viagem e ter lido um pouquinho do diário de bordo, tenha, nem que por breves segundos, imaginado e se sensibilizado com o que se passa lá fora, fora das paredes de nossas cidades. Existe um mundo lá fora e este está carente, dependendo, infelizmente, da nossa boa vontade de controlar um pouco a velocidade com a qual o destruímos. Temos esperanças…
A minha maior felicidade nessa viagem foi, sem sombras de dúvidas, ter sido despertado para o fato de que tem muita, mas muita gente boa nesse mundo. Às vezes a gente fica desiludido achando que está tudo tão ruim, influenciados pelas más notícias que diariamente invadem os nossos meios de comunicação. Essa viagem, pessoalmente, me reacendeu a esperança que tenho no mundo. Conheci muita gente boa sempre disposta a ajudar um desconhecido. São pessoas dignas com a coragem e a honra de poder confiar num estranho, e não se decepcionar. Foi gente assim, amiga, prestativa, calorosa, que fez dessa viagem para mim uma experiência que eu estava precisando. Foram pessoas que, nos breves momentos que as conheci, foram meus melhores amigos e amigas nessa viagem. Foram as pessoas que, com mensagens e palavras de incentivo, ou simples gestos, geraram em mim a energia e satisfação de colocar aquele remo na água e remar alguns milhares de quilômetros na querida canoa Ethel, por esses “mares fluviais” que foram nosso percurso.
Obrigado ao Carlos Vageler, por ser cúmplice desse projeto e dessa empreitada bem sucedida! Tivemos altos e baixos em nosso relacionamento ao longo da viagem, como é naturalmente de se esperar, mas é inquestionável que nossa relação profissional e comprometimento resultaram em uma expedição muito bem planejada e executada, com segurança e prudência e por isso tudo tivemos êxito. Valeu, Carlos!
A todos vocês no Brasil, e a todos ustedes en Argentina, que participaram de uma maneira ou de outra nessa jornada, sendo tanto nos preparativos quanto na viagem (e cada um de vocês sabe quem é), UM GRANDE, MAS MUITO GRANDE MESMO, OBRIGADO!!! DE CORAÇÃO!!!
Carlos – Compromisso integralmente realizado. Falo em compromisso porque uma viagem deste tipo envolve não somente quem está executando, mas todos aqueles que ajudaram, apoiaram, patrocinaram e acompanharam a viagem. As grandes aventuras no mundo já se foram, podemos apenas repeti-las. Sempre digo que aventura mesmo hoje é produzir algo para ajudar a melhorar o mundo que está à nossa frente, educando, conscientizando e trabalhando. Vimos como o processo de degradação ambiental está acelerado e o mais incrível é que é feito boa parte por aqueles que dizem ser apaixonados pela natureza. Tiram o máximo possível e deixam em troca apenas seus excrementos e lixo .
Encontramos em todo o percurso pessoas de boa vontade e foram a maioria absoluta, isso é algo que não esquecerei nunca e agradeço a todos que conheci e que estão ou não citados em nosso diário.
A amizade teve sua grande culpa pelo sucesso da viagem, e saber contar até dez também, das duas partes, é lógico. Mas brincadeira à parte faço aqui meu agradecimento ao Alessandro por este sucesso.
A todos que nos acompanharam um forte abraço.