Dia 091 -Isla Pereira > San Nicolas

Percurso: Rio Paraná
Início: Isla Pereira / Villa Constituicion – km 378, 33° 12.771’S 60° 17.341’W
Final: San Nicolas, Club de Pesca Del Acuerdo – km 345, 33° 21.466’S 60° 9.916’W
Percorrido hoje: 21.4 km
Total Acumulado: 2843.2 km
Hoje a Canoa Quase Capotou
Alessandro – Logo pela manhã os garotos que estavam acampando lá perto vieram pedir açúcar e qualquer comida, já que estavam com fome e não tinham nada. Eu já não tinha ido com a cara dos garotos, já que no dia anterior eles apareceram armados e, devido a isso, com uma atitude de prepotência. Para completar eles vieram às seis e meia da manhã para nos acordar para pedir comida! Deu vontade de jogar esses Miguelitos folgados na água! Até agora, toda a molecada que conhecemos no caminho tem sido muito gente boa. Agora, basta uma criança insegura ter uma arma na mão e veja os resultados. Pelo menos dessa vez, de manhã, os garotos apareceram sem a arma, já que eu demonstrei uma certa antipatia na noite anterior.
Estávamos carregando a canoa hoje de manhã quando passou um navio veloz de repente no meio do rio, não muito longe de onde estávamos. Nos pegou de surpresa! Metade da canoa estava na água e a proa dela apoiada na praia de terra. Marolas gigantes vieram em nossa direção! Não tinha como puxar ela mais para a terra, pois já estava pesada. Deu apenas tempo de empurrá-la para dentro d’água, mas ela ainda estava de lado… As ondas enormes acertaram!! Eu e o Carlos pulamos para dentro da água para segurar a canoa que chegou muito perto de virar! Até nos machucamos levando canoada no peito, nas pernas e no quadril, mas conseguimos colocá-la de comprido em relação as ondas, evitando que virasse. Ela encheu de água, e parte do equipamento que estava presa acima da capa de chuva se deslocou, fazendo com que tivéssemos que tirar e arrumar tudo de novo. A força da água demonstrou sem dúvidas o seu potencial de violência. Dos males o menor. Não molhou nada, afinal está tudo dentro de barricas e bolsas estanques. O susto valeu para começarmos o dia adrenados e cautelosos!
O vento continuou forte e constante. Imaginávamos que a essa hora o vento já teria parado, mas ele persiste há dias! E nada podemos fazer, a não ser enfrentá-lo. Já são dias e dias seguidos de remadas contra o vento. Contra ondas. Contra a exaustão. O cansaço psicológico é o pior: Ficamos na expectativa de o vento parar, mas no dia seguinte ele continua com tudo. Estamos alí, no meio da água, no meio de um rio muito largo. E a única coisa a fazer e continuar remando, horas a fio, com vontade de parar e descansar, mas isso não é possível. É necessário persistir, ignorar o cansaço, ignorar a dor nos braços. É necessário compreender e aceitar a óbvia redundância de que, se pararmos, não chegamos a lugar nenhum. Esse é o momento difícil da viagem. Numa hora dessas é preciso concentrar e simplesmente apreciar o vento na cara, apreciar a intensidade das ondas. É preciso aceitar, se conformar e até mesmo “gostar” do inevitável. É preciso converter a situação a seu favor. É preciso pensar no lado bom. É preciso enxergar seu objetivo lá na frente e saber que você está cada vez mais próximo. É preciso saber sorrir e ironicamente refletir: “Isso é uma loucura… E ainda bem que estou aqui realizando-a!”. Esse tipo de situação nos faz sentir vivos.
No final do dia chegamos a um Camping no Club de Pesca Del Acuerdo em San Nicolas aonde tivemos um bom gramado e estrutura para acampar e preparar a tão esperada janta. Foi um dia cansativo. Foi um dia bom.