Casellaalessandro
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Dia 30 – Permanência na Vila da CESP Três Lagoas
Percurso: Permanência na Vila da CESP Três Lagoas – Represa de Jupiá, Rio Paraná
Início/Final: Permanência em Jupiá/Três Lagoas – Vila dos Trabalhadores da CESP
20° 45.930’S 51° 35.531’W
Percorrido hoje: 0 km
Total acumulado: 705.1 km
Colocando as Informações em Dia
Alessandro – Passamos praticamente o dia todo Vila da CESP. Hoje foi dia de atualizar todo o nosso diário de bordo, e foi no momento da atualização que deu problema no computador. Depois de investigar a gente descobriu que esse problema, apagou todos os dados que estavam no disco rígido. Não sei se foi vírus ou falha do equipamento, mas por causa disso a gente acabou atrasando nossas atualizações. Portanto, mais uma vez, queremos pedir desculpas para o pessoal que está na expectativa de nos acompanhar. Obrigado pela compreensão e pela paciência. Mas agora daremos continuidade em nosso diário de expedição.
O dia todo foi para descanso, aproveitamos para repor algumas coisas do supermercado. Eu e o Cássio fomos de carro até Três Lagoas e na volta a polícia nos parou, por simples rotina. E eu, que estava dirigindo tomei uma multa, pois para a minha surpresa a polícia apontou para o Cássio e mostrou que ele estava sem cinto de segurança. só me faltava essa: Praticamente um mês sem dirigir, e no único momento da viagem que dirigi um carro, recebi uma multa porque o amigo esqueceu de colocar o cinto. Melhor ficar no rio mesmo, onde não tem polícia rodoviária.
De volta no acampamento na Vila da CESP eu e o Carlos fizemos uma pequena manutenção de ajustes que precisavam ser feitos na canoa. Enfim, foi um dia tranquilo. Foi bom estar na companhia da Alessandra e do Cássio e poder conversar com outras pessoas, pois queira ou não, todos os dias com a mesma pessoa, o dia todo, faz a gente querer um pouco de diversidade.
Dia 29 – Três Lagoas, MS > Vila da CESP Três Lagoas
Percurso: Represa de Jupiá, Rio Paraná
Início: Enseada na Mata, próximo a Três Lagoas
20° 43.599’S 51° 36.084’W
Final: Jupiá/Três Lagoas – Vila dos Trabalhadores da CESP
20° 45.930’S 51° 35.531’W
Percorrido hoje: 5.1 km
Total acumulado: 705.1 km
Reabastecimento
Alessandro – Hoje, a gente se deslocou bem pouco, apenas uns cinco quilômetros, e chegamos na Vila dos Trabalhadores da CESP, bem de frente para a Eclusa de Jupiá. Essa barragem forma a ponte que atravessa de São Paulo para o Mato Grosso do Sul, entre Andradina e Três Lagoas. A gente ficou por lá mesmo e aproveitou o final do dia para descansar, nos encontramos com o pessoal da equipe de apoio. Esse local era um ponto de encontro adequado para encontrar com a Alessandra e o Cássio, amigo nosso que veio fazer companhia para a Alessandra e nos ajudar com o abastecimento de comida. Não era comida que se encontrava em supermercados, mas sim alimentos liofilizados que ganhamos da equipe do Amyr Klink.
Dia 28 – Bela Floresta, SP > Três Lagoas, MS
Percurso: Represa Três Irmãos, Rio Tietê – Chegada no Rio Paraná – Represa de Jupiá, Rio Paraná
Início: Bela Floresta, montante Barragem Três Irmãos, Bóia 10, margem direita
20° 38.456’S 51° 17.262’W
Final: Enseada na Mata, próximo a Três Lagoas
20° 43.599’S 51° 36.084’W
Percorrido hoje: 44.3 km
Total acumulado: 700.0 km
Chegamos ao Rio Paraná!
Alessandro – Quando acordamos hoje já podíamos ver com nitidez a barragem de Três Irmãos ‘”logo ali”. A praia onde pernoitamos estava bem próxima de lá. Fizemos a eclusagem pela barragem de Três Irmãos.
A convite do pessoal da CESP, nós aproveitamos e conhecemos a Usina da Barragem através de uma visita guiada.
No final do dia, chegando próximo de Itapura, estávamos já a menos de dez quilômetros da foz do Rio Tietê no Rio Paraná, e a água estava muito limpa e cristalina no meio do canal. A gente conseguia enxergar o fundo, a mais ou menos uns 3 metros, e a transparência da água permitia ver com nitidez as plantas de fundo, “sopradas” pela correnteza no leito.
Então, em homenagem ao poder de recuperação do Rio Tietê, e também para impressionar o pessoal que mora em São Paulo e conhece a poluição que aflige esse rio lá na Grande São Paulo, nós tomamos alguns goles de água do Rio Tietê. Claro que a limpeza é apenas visual. Até chegar aqui o Rio decantou a maior parte de seus poluentes nessas últimas centenas de quilômetros. Não há dúvidas que alguma química ainda persiste e contamina as águas. Esse rio toma muita porrada ao longo do caminho, desde o momento que nasce. Mas aqui eu quis expressar meu reconhecimento pelo tanto que o rio se esforça para sobreviver. Chegando aqui lindo assim, é um exemplo de resiliência. Pelo menos na aparência a água estava muito limpa. Não tinha gosto e parecia normal. Se ia dar alguma dor de barriga mais pra frente, não sabíamos, mas arriscamos. Felizmente não deu nada.
Paramos em Itapura à direita do rio no final da tarde e fomos jantar no bar do Sr. Maçarico, onde comemos uma peixada. O Maçarico é um senhor muito gente boa, que já trabalhou nas barcaças e percorreu grandes extensões do Rio Paraná.
Depois da janta voltamos para a canoa e remamos mais, aproveitando a luminosidade da noite de lua cheia. Percorremos os últimos cinco quilômetros do Rio Tietê e adentramos o Rio Paraná. Após 28 dias de viagem, completamos a nossa primeira etapa, que foi toda a extensão da bacia do Tietê. A partir de hoje, começam nossas remadas no Rio Paraná, que deve nos levar em suas águas até sua foz no mar.
Chegamos ao nosso destino às duas horas da madrugada. E por volta das duas e meia fomos dormir após um banho de rio. Nadar no Rio Paraná nessa madrugada, sob a lua cheia, foi uma maneira muito agradável desse rio que parece mar nos dar as boas vindas.
Uma coincidência muito interessante: O total de quilômetros acumulados até aqui, bem no marco de completar a fase Rios Atibaia, Piracicaba e Tietê foi de 700 km, número redondo.
Dia 27, Pereira Barreto SP > Bela Floresta SP
Percurso: Represa Três Irmãos, Rio Tietê
Início: Pereira Barreto, margem oposta
20° 39.837’S 51° 5.884’W
Final: Bela Floresta, montante Barragem 3 Irmãos, Bóia 10, margem direita
20° 38.456’S 51° 17.262’W
Percorrido hoje: 20.6 km
Total acumulado: 655.7 km
Colônia de Japoneses
Alessandro – Logo de manhã a gente fez a travessia do canal e chegou em Pereira Barreto. A gente aportou na prainha, foi fazer compras e conheceu a cidade. A cidade tem uma boa parte de sua população com ascendência japonesa. Algo em torno de 1/3 do povo dessa cidade.
Aproveitamos para comer uma saladinha num restaurante por quilo. A gente revezou: Enquanto um ficava tomando conta da canoa, o outro ia almoçar e conhecer um pouco da cidade. A gente tirou o dia mais ou menos para descansar, mas tendo em mente que ia remar novamente à noite. A gente saiu de tarde, por volta das 18h horas e remou noite adentro, debaixo de uma lua maravilhosa novamente. Havia um pouco de vento, e proporcionou bastante ondas desta vez. Chegou a entrar água na canoa, por conta de algumas ondas mais fortes, mas faz parte da aventura. Remamos 24 km e quando paramos para dormir era quase 22h, e já estávamos avistando as luzes da Barragem de Três Irmãos. Acampamos em uma enseada ao lado de uma mata, próximo a Três Lagoas, 5 km antes Vila CESP Jupiá, que seria o destino do dia seguinte.
Dia 26, Santo Antônio do Aracanguá SP > Pereira Barreto SP
Percurso: Represa Três Irmãos, Rio Tietê
Início: Fazenda Santa Marina, Santo Antônio do Aracanguá
20° 51.293’S 50° 46.707’W
Final: Pereira Barreto, margem oposta
20° 39.837’S 51° 5.884’W
Percorrido hoje: 41.0 km
Total acumulado: 635.1 km
Dia de Produzir uma Matéria para a Globo
Alessandro – Hoje foi um dia bem diferente. A Alessandra, namorada do Carlos, tem feito nos bastidores contato com a imprensa com o objetivo de divulgar nossa expedição. Um desses contatos foi com uma filial local da Rede Globo, a TV Progresso. Então o repórter Marcelo e sua equipe entraram em contato com a gente esses dias e ficou combinado que nos encontraríamos hoje em Santo Antônio do Aracanguá, para produzir uma matéria.
Desde cedo, quando eles chegaram na fazenda onde pernoitamos, a gente ficou gravando várias cenas e situações do nosso dia a dia, para ilustrar como é a rotina de nossa viagem. Inclusive envolveu algumas pessoas da fazenda. Para isso, ele precisou ligar para o dono da fazenda no Rio de Janeiro para conseguir autorizações. Foi um auê. A gente visitou até a escolinha da fazenda e conversou com a criançada, falando de nossa viagem. E a equipe de reportagem gravou tudo. Teve até um momento que a gente simulou como seriam os preparativos a noite antes de dormir, e para isso utilizamos a casa onde pernoitamos, com todas as janelas e portas fechadas para ficar escuro e fazermos as filmagens só com as luzes das nossas lanternas de cabeça. A matéria ficou interessante, ilustrando um pouco do nosso dia a dia. Ela pode ser assistida aqui.
A gente começou a remar para valer mesmo na metade tarde, depois que a gente deixou a equipe de reportagem. O dia estava maravilhoso, a água da represa estava um espelho de tão lisa, e muito transparente.
Percebendo que a noite seria de tempo bom, a gente optou por parar para descansar um pouco no final da tarde e continuar remando noite adentro, para aproveitar a luminosidade da noite de lua cheia.
A gente adentrou a noite remando, com o objetivo de chegar em Pereira Barreto. A lua iluminava a represa, e as margens ficam todas escuras, com exceção de algumas luzes distantes que a gente enxerga nas margens, as vezes de algum rancho, de algum poste eu de alguma sede de fazenda. Teve um trecho que a margem ficou escura e sem luz nenhuma por uma grande distância, até que finalmente a gente viu o que parecia ser a luz de um poste bem longe, lá na frente, na margem direita.
No escuro você vê apenas um brilho, e por não ter referência nenhuma, você não tem muita noção da distância ou dimensões do que você está vendo. Brilho é brilho, e eu imaginei que fosse realmente a luz de um poste. E a luz aumentava muito pouco de tamanho, como deveria ser na medida que a gente se aproximava. Então a gente deduziu que não era a luz de apenas um poste, mas um grupo de luzes acesas, num rancho longínquo talvez. E remamos literalmente horas vendo a mesma luz numa reta distante. Essa luz foi se alargando e alargando e no final das contas a luz que achei ser de um poste, e depois de um rancho, era na verdade a luz de um bairro inteiro, nas imediações, de Pereira Barreto.
Por fim, nós remamos por mais de 3 horas desde o momento que avistamos a “luz do poste” até ver que na verdade era um bairro inteiro. O problema disso foi que a gente ficou remando por 3 horas a todo momento com a expectativa de que “estávamos chegando” e que logo estaríamos acampados em terra firme. Chegamos exaustos e desgastados na nossa parada de hoje. No escuro foi o melhor que encontramos. Acampamos bem numa esquina formada por um canal à nossa direita e o curso principal do rio, na margem oposta a Pereira Barreto.
Eu estava tão cansado que entrei na barraca depois de jantar e apaguei rapidinho, pois além do cansaço físico, que é normal no final dos dias de remada, teve um desgaste mental de remar e remar, e sentir a frustração de “nunca chegar”.
Dia 25, Aracanguá > Sto. Antônio do Aracanguá
Percurso: Represa Três Irmãos, Rio Tietê
Início: Aracanguá – Fazenda Santa Lídia – bóia 87
20° 56.855’S 50° 36.217’W
Final: Santo Antônio do Aracanguá – Fazenda Santa Marina
20° 51.293’S 50° 46.707’W
Percorrido hoje: 17.8 km
Total acumulado: 594.1 km
Sanguessugas e Tempestade
Alessandro – Na noite de ontem a gente acampou numa enseada pequena na beirada da represa para se abrigar do vento. A noite foi de uma lua cheia maravilhosa, daquelas que acendem o céu todo. O engraçado é que durante o dia venta muito, e a noite sem vento nenhum, e água fica como um espelho. Por conta disso a gente até pensou na ideia de em algum momento nos próximos dias fazermos uma remada noturna.
Logo de manhã ao subirmos na canoa para seguir viagem a gente percebeu pequenas sanguessugas nos nossos pés. É comum a gente ficar descalço ao longo do dia, inclusive na hora de entrar e sair da canoa a gente quase sempre pisa na água até a altura dos joelhos, sem nenhum calçado. As sanguessugas estavam entre os dedos e nos peitos dos pés. A gente não sentiu nada nos pés que nos alertasse, foi mais por acaso que vimos. Fizemos uma pausa rápida antes de remar, sentados dentro da canoa mesmo, e removemos as sanguessugas. Eram pequenas, com cerca de meio centímetro de comprimento em média, mas que precisamos tirar rapidinho antes de se prenderem para valer na pele de nossos pés.
Hoje foi outro dia muito, muito desgastante. Mais uma vez por causa do constante forte vento contra. Estávamos já remando mais pro meio da represa quando vimos as nuvens escuras e baixas se formando no céu. O vento cada vez mais forte começou a arrancar as cristas das marolas crespas na superfície da água, e o tempo foi fechando rapidamente.
Quando se vê os “carneirinhos”, espuma branca na crista das marolas, não é bom sinal. E a represa estava repleta deles! Uma tempestade era iminente. Diante disso a gente encostou com pressa a canoa na margem mais próxima e descemos para colocar a capa de chuva na canoa, prevendo a formação logo em breve de ondas mais altas devido ao vento que aumentava em força e a chuva que certamente estava prestes a desabar.
A capa de chuva da canoa impede que água entre nos espaços vazios dentro da canoa, permitindo furar ondas mais altas e pegar chuva. Assim a gente voltou pra água e voltamos a remar, e a chuva veio forte.
Era melhor remar do que ficar parados esperando na margem. As remadas contra o vento e debaixo de forte chuva, subindo e descendo nas ondas, não estavam rendendo quase nada, mas a gente conseguiu remar 18 quilômetros hoje.
Mais tarde a tempestade se dissipou e o vento acalmou, e a gente chegou numa pequena praia de areia muito bonita, que era os fundos de uma fazenda maravilhosa, a Fazenda Santa Marina. Falamos com o pessoal, que nos autorizou a dormir numa casinha que está em desuso, a uns 200 metros da água. Só que entre a casinha e a água, onde aportamos com a canoa, havia um espécie de brejo, como uma área de pasto alagada. Ironicamente a gente conseguiu um lugar legal para dormir, mas precisamos atravessar esse trecho de brejo com todos os equipamentos, várias vezes, entre a praia onde aportamos com a canoa e a casa, e da casa até a canoa, até descarregar tudo. Bolsas e bombonas plásticas contendo nossas barracas, sacos de dormir, trocas de roupas, comida, material de cozinha, painel solar, bateria de caminhão, mesinha, cadeiras portáteis, e tudo que a gente levava dentro da canoa. Idas e vindas atravessando o brejo.
A casa não tinha energia elétrica, e isso não era problema porque a gente tem nossas próprias lanternas. Também não tinha chuveiro, mas felizmente tinha água corrente, e tinha um cano de água saindo direto da parede. Então, apesar da precariedade, foi possível tomar banho.
Dia 24, Araçatuba > Aracanguá
Percurso: Represa Três Irmãos, Rio Tietê
Início: Araçatuba Yatch Clube
21° 2.922’S 50° 31.055’W
Final: Aracanguá, Enseada na Fazenda Santa Lídia – bóia 87
20° 56.855’S 50° 36.217’W
Percorrido hoje: 18.9 km
Total acumulado: 576.3 km
Quase Sem Sair do Lugar
Alessandro – Logo pela manhã, antes de nós sairmos do clube, apareceu o Marcelo, distribuidor da Áqua Vita em Araçatuba e nos forneceu uns 40 litros de água entre garrafinhas e garrafões, e também uns bonés da Áqua Vita para fazermos um pouco de divulgação para ele.
Foi um dia muito desgastante: Sofremos muito vento contra e remamos apenas 19 km. Era quase já no meio da tarde, depois de algumas horas remando e ainda dava para ver o Iate clube de onde saímos lá longe. Em termos de motivação isso é bastante negativo, porque a gente tá remando e remando, tendo um desgaste enorme remando contra o vento, querendo avançar, mas daí a gente olha para trás e está lá ainda, o ponto de onde saímos horas atrás. Então foi um dia bem cansativo, por conta desse tipo de desgaste.
A gente aproveitou que dormiu, na noite anterior, num pomar de coqueiros e levou uns cocos. A curtição do dia foi beber água de côco na beira do rio.