Dia 26, Santo Antônio do Aracanguá SP > Pereira Barreto SP
Percurso: Represa Três Irmãos, Rio Tietê
Início: Fazenda Santa Marina, Santo Antônio do Aracanguá
20° 51.293’S 50° 46.707’W
Final: Pereira Barreto, margem oposta
20° 39.837’S 51° 5.884’W
Percorrido hoje: 41.0 km
Total acumulado: 635.1 km
Dia de Produzir uma Matéria para a Globo
Alessandro – Hoje foi um dia bem diferente. A Alessandra, namorada do Carlos, tem feito nos bastidores contato com a imprensa com o objetivo de divulgar nossa expedição. Um desses contatos foi com uma filial local da Rede Globo, a TV Progresso. Então o repórter Marcelo e sua equipe entraram em contato com a gente esses dias e ficou combinado que nos encontraríamos hoje em Santo Antônio do Aracanguá, para produzir uma matéria.
Desde cedo, quando eles chegaram na fazenda onde pernoitamos, a gente ficou gravando várias cenas e situações do nosso dia a dia, para ilustrar como é a rotina de nossa viagem. Inclusive envolveu algumas pessoas da fazenda. Para isso, ele precisou ligar para o dono da fazenda no Rio de Janeiro para conseguir autorizações. Foi um auê. A gente visitou até a escolinha da fazenda e conversou com a criançada, falando de nossa viagem. E a equipe de reportagem gravou tudo. Teve até um momento que a gente simulou como seriam os preparativos a noite antes de dormir, e para isso utilizamos a casa onde pernoitamos, com todas as janelas e portas fechadas para ficar escuro e fazermos as filmagens só com as luzes das nossas lanternas de cabeça. A matéria ficou interessante, ilustrando um pouco do nosso dia a dia. Ela pode ser assistida aqui.
A gente começou a remar para valer mesmo na metade tarde, depois que a gente deixou a equipe de reportagem. O dia estava maravilhoso, a água da represa estava um espelho de tão lisa, e muito transparente.
Percebendo que a noite seria de tempo bom, a gente optou por parar para descansar um pouco no final da tarde e continuar remando noite adentro, para aproveitar a luminosidade da noite de lua cheia.
A gente adentrou a noite remando, com o objetivo de chegar em Pereira Barreto. A lua iluminava a represa, e as margens ficam todas escuras, com exceção de algumas luzes distantes que a gente enxerga nas margens, as vezes de algum rancho, de algum poste eu de alguma sede de fazenda. Teve um trecho que a margem ficou escura e sem luz nenhuma por uma grande distância, até que finalmente a gente viu o que parecia ser a luz de um poste bem longe, lá na frente, na margem direita.
No escuro você vê apenas um brilho, e por não ter referência nenhuma, você não tem muita noção da distância ou dimensões do que você está vendo. Brilho é brilho, e eu imaginei que fosse realmente a luz de um poste. E a luz aumentava muito pouco de tamanho, como deveria ser na medida que a gente se aproximava. Então a gente deduziu que não era a luz de apenas um poste, mas um grupo de luzes acesas, num rancho longínquo talvez. E remamos literalmente horas vendo a mesma luz numa reta distante. Essa luz foi se alargando e alargando e no final das contas a luz que achei ser de um poste, e depois de um rancho, era na verdade a luz de um bairro inteiro, nas imediações, de Pereira Barreto.
Por fim, nós remamos por mais de 3 horas desde o momento que avistamos a “luz do poste” até ver que na verdade era um bairro inteiro. O problema disso foi que a gente ficou remando por 3 horas a todo momento com a expectativa de que “estávamos chegando” e que logo estaríamos acampados em terra firme. Chegamos exaustos e desgastados na nossa parada de hoje. No escuro foi o melhor que encontramos. Acampamos bem numa esquina formada por um canal à nossa direita e o curso principal do rio, na margem oposta a Pereira Barreto.
Eu estava tão cansado que entrei na barraca depois de jantar e apaguei rapidinho, pois além do cansaço físico, que é normal no final dos dias de remada, teve um desgaste mental de remar e remar, e sentir a frustração de “nunca chegar”.