Dia 25, Aracanguá > Sto. Antônio do Aracanguá
Percurso: Represa Três Irmãos, Rio Tietê
Início: Aracanguá – Fazenda Santa Lídia – bóia 87
20° 56.855’S 50° 36.217’W
Final: Santo Antônio do Aracanguá – Fazenda Santa Marina
20° 51.293’S 50° 46.707’W
Percorrido hoje: 17.8 km
Total acumulado: 594.1 km
Sanguessugas e Tempestade
Alessandro – Na noite de ontem a gente acampou numa enseada pequena na beirada da represa para se abrigar do vento. A noite foi de uma lua cheia maravilhosa, daquelas que acendem o céu todo. O engraçado é que durante o dia venta muito, e a noite sem vento nenhum, e água fica como um espelho. Por conta disso a gente até pensou na ideia de em algum momento nos próximos dias fazermos uma remada noturna.
Logo de manhã ao subirmos na canoa para seguir viagem a gente percebeu pequenas sanguessugas nos nossos pés. É comum a gente ficar descalço ao longo do dia, inclusive na hora de entrar e sair da canoa a gente quase sempre pisa na água até a altura dos joelhos, sem nenhum calçado. As sanguessugas estavam entre os dedos e nos peitos dos pés. A gente não sentiu nada nos pés que nos alertasse, foi mais por acaso que vimos. Fizemos uma pausa rápida antes de remar, sentados dentro da canoa mesmo, e removemos as sanguessugas. Eram pequenas, com cerca de meio centímetro de comprimento em média, mas que precisamos tirar rapidinho antes de se prenderem para valer na pele de nossos pés.
Hoje foi outro dia muito, muito desgastante. Mais uma vez por causa do constante forte vento contra. Estávamos já remando mais pro meio da represa quando vimos as nuvens escuras e baixas se formando no céu. O vento cada vez mais forte começou a arrancar as cristas das marolas crespas na superfície da água, e o tempo foi fechando rapidamente.
Quando se vê os “carneirinhos”, espuma branca na crista das marolas, não é bom sinal. E a represa estava repleta deles! Uma tempestade era iminente. Diante disso a gente encostou com pressa a canoa na margem mais próxima e descemos para colocar a capa de chuva na canoa, prevendo a formação logo em breve de ondas mais altas devido ao vento que aumentava em força e a chuva que certamente estava prestes a desabar.
A capa de chuva da canoa impede que água entre nos espaços vazios dentro da canoa, permitindo furar ondas mais altas e pegar chuva. Assim a gente voltou pra água e voltamos a remar, e a chuva veio forte.
Era melhor remar do que ficar parados esperando na margem. As remadas contra o vento e debaixo de forte chuva, subindo e descendo nas ondas, não estavam rendendo quase nada, mas a gente conseguiu remar 18 quilômetros hoje.
Mais tarde a tempestade se dissipou e o vento acalmou, e a gente chegou numa pequena praia de areia muito bonita, que era os fundos de uma fazenda maravilhosa, a Fazenda Santa Marina. Falamos com o pessoal, que nos autorizou a dormir numa casinha que está em desuso, a uns 200 metros da água. Só que entre a casinha e a água, onde aportamos com a canoa, havia um espécie de brejo, como uma área de pasto alagada. Ironicamente a gente conseguiu um lugar legal para dormir, mas precisamos atravessar esse trecho de brejo com todos os equipamentos, várias vezes, entre a praia onde aportamos com a canoa e a casa, e da casa até a canoa, até descarregar tudo. Bolsas e bombonas plásticas contendo nossas barracas, sacos de dormir, trocas de roupas, comida, material de cozinha, painel solar, bateria de caminhão, mesinha, cadeiras portáteis, e tudo que a gente levava dentro da canoa. Idas e vindas atravessando o brejo.
A casa não tinha energia elétrica, e isso não era problema porque a gente tem nossas próprias lanternas. Também não tinha chuveiro, mas felizmente tinha água corrente, e tinha um cano de água saindo direto da parede. Então, apesar da precariedade, foi possível tomar banho.