Durante os arranjos finais da expedição, uma das coisas que eu tinha decidido era que eu não ia levar nenhuma fita K7 com música.
“Abre parêntese” para explicar pro pessoal mais novo: Não tinha tocador de MP3 comercializado na época como o iPod da Apple. O equivalente ao iPod nos anos 80 e 90 era o toca-fitas portátil, popularizado pelo Walkman da Sony. Nele a se escutava as fitas cassetes (daí K7). Nos carros eram os “teipes” (do inglês tape player, toca fita) Gravar uma fita tradicionalmente levava o mesmo tempo que escutar cada música. E gravava no lado A e no lado B, que podiam ser de 30 ou 45 minutos de capacidade de cada lado. “Fecha parentes”.
Eu decidi não levar nenhuma música que eu já tinha pra não levar “memórias” e com isso influenciar o astral da viagem com alguma nostalgia. Esse foi meu raciocínio na época, e eu me arrependi, porque esse argumento era uma bobagem besta, claro. Na primeira semana não ter algum sonzinho pra distrair durante as longas remadas já fez falta. Mas paciência, não levei nenhuma fita apesar de ter levado um gravador portátil. Aliás, as fitas que levei, umas três, eram virgens. Usamos o gravador algumas vezes pra gravar alguns relatos pra enviar pra Rádio Eldorado – Só que essa logística era complicada e acabamos enviando acho que só uma ou duas fitas.
Enfim, duas semanas de viagem se passaram e foi uma surpresa boa quando eu recebi de presente da minha amiga Emily uma coletânea de músicas bem variadas, contendo de Almir Sater e Zélia Duncan a Whitesnake e Fleetwood Mac. Pronto! A partir desse dia a gente escutava essa fita, e somente essa fita, mais de duas ou três vezes por dia! Tocava no toca fitas, que tinha um pequeno alto-falante do lado, e que ficava dentro de um saco plástico ziploc preso no console na minha frente, junto com o GPS. O volume era alto o suficiente pro Carlos escutar lá na parte de trás da canoa também. Só que depois de mais de um mês só escutando aquela fita, eu pedi para trazerem em um dos encontros de reabastecimento, em Foz do Iguaçu, um caixa com pelo menos mais umas 10 fitas das minhas coletâneas pra escutar ao longo do resto da viagem, e o Carlos ficou muito agradecido com isso! As músicas daquela única fita, intitulada “As Promissed”, presenteada pela querida amiga Emily, viraram a trilha sonora da expedição.