Nossa alimentação era um tanto normal, seguindo a rotina de café da manhã, lanches ao longo do dia e uma janta nutritiva.
O dia começava com ovos cozidos, granola, pão com geléia, café e chás. Era possível levar tudo isso na canoa sem problemas. Ao longo do dia, em vez de um almoço, a gente ia comendo frutas frescas, bolachas e barrinhas de cereais. Era muito raro a gente comer em algum restaurante, a não ser que estivéssemos em alguma cidade, daí a gente normalmente optava por alguma coisa com peixes. O lanche da tarde normalmente tinha azeitonas e biscoitos. Na Argentina a gente passou a comer as “galletitas con mantequilla” (bolachas de água e sal com manteiga) e bebia suco de pomelo. Na Argentina também, o alfajor passou a fazer parte da sobremesa.
A gente cozinhava usando um fogareiro que queimava benzina. Se acabasse a benzina a gente poderia usar também gasolina, álcool, querosene, thinner e até vodka. Felizmente sempre tivemos benzina suficiente. Nas jantas a gente comia com mais frequência a comida liofilizada, além de uma ocasional atum enlatado. A comida liofilizada é uma comida pré-cozida e desidratada, empacotada de maneira que tenha longa validade sem o acréscimo de conservantes ou refrigeração.
O Amyr Klink, renomado navegador brasileiro, usou em suas viagens de veleiro pelo mundo esse tipo de comida, que foi fornecido pela Nutrilatina (a mesma fabricantes das barrinhas de cereais Nutri, uma das pioneiras nos anos 90). Nós tínhamos um contato com o Amyr Klink e seu empresário na época, através do Roberto Fernandes, que produziu e manteve o site da nossa expedição na época. E através desse contato, o Amyr Klink doou para gente centenas de pacotes de comida liofilizada que tinham sobrado de uma de suas viagens mais recentes. A comida vinha em embalagens do tamanho dessas tipo “sopão instantâneo”, só que feitas de plástico laminado com alumínio prateado, e com uma etiqueta branca escrito com máquina de escrever identificando o conteúdo. Parecia comida de astronauta, como disseram algumas pessoas que viam nossos mantimentos. A gente tinha na canoa um estoque de comida pra durar várias semanas. E eu fazia questão, quando tinha a oportunidade, de convidar as pessoas que nos recebiam para comer com a gente. Por isso inclusive levava talheres extras.
Dentre a grande seleção dos pacotes de comida liofilizada tinha sopas, algumas contendo macarrão, feijão, arroz, frango desfiado, purê de batata, capeletti, legumes e outras coisas que agora não lembro. Mas era bem diversificado e saboroso. Nos proporcionaram jantas substanciosas e com os nutrientes que a gente precisava para manter o corpo funcionando bem com tanta atividade física diária. Fora isso, quando tinha alguma cidade ou vila em alguma parada, era hora de comprar pão, bolachas, frutas frescas, ovos e sucos.
Os ovos eram armazenados entre as barricas na frente do Carlos, na sombra fresca no fundo da canoa, bem protegidos, e assim duravam vários dias. O Amyr Klink doou pra gente, também da Nutrilatina, uma dúzia de caixas de barrinhas de cereais, que a gente comia ao longo do dia.
Nós acampamos por três meses seguidos, e NENHUMA vez comemos miojo!