<\/a> Canoa e remos rec\u00e9m chegados dos Estados Unidos.[\/caption] Ap\u00f3s o processo de libera\u00e7\u00e3o da importa\u00e7\u00e3o n\u00f3s fomos buscar a canoa em 15 de Abril, faltando exatos cinquenta dias para o in\u00edcio de nossa viagem. A canoa estava embrulhada em pl\u00e1stico bolha azul. E quando cheguei nela, ainda no galp\u00e3o de mercadorias importadas, eu tirei o pl\u00e1stico da proa (frente da canoa) pra tocar nela. E quando fiz isso meu cora\u00e7\u00e3o quase parou e pensei \u201cFUDEU!\u201d. Eu senti ela muito fr\u00e1gil! A parte do caso que toquei parecia um papel\u00e3o endurecido \u2013 Aquela parte da proa, o material, era fino demais!!! Eu olhei para aquilo e pensei que foi um erro, que essa canoa era algo que n\u00e3o ia aguentar uma viagem daquela dimens\u00e3o. Pensei que me mandaram a canoa errada. N\u00e3o podia ser! Tive a p\u00e9ssima impress\u00e3o de arrependimento, de que sem saber eu comprei um equipamento muito fr\u00e1gil, inadequado. E n\u00e3o tinha o que fazer. Depois de todo aquele trabalho a canoa j\u00e1 estava aqui. Mas me deixa dizer logo: Foi um erro meu! Ignor\u00e2ncia minha! Era uma canoa de Kevlar, uma fibra de carbono desenvolvida pela DuPont. E eu n\u00e3o tinha nenhuma familiaridade com aquele tipo de material e errei feio naquele primeiro julgamento. Felizmente! A canoa com seus 5.6 metros pesava apenas 28 kg! E o Kevlar \u00e9 o mesmo material usado em coletes a prova de balas, na constru\u00e7\u00e3o de sat\u00e9lites, equipamentos ol\u00edmpicos de ponta e tantas outras coisas fabricadas com tecnologia avan\u00e7ada. Levamos a canoa para minha casa, e l\u00e1 deu pra ver o quanto ela era refor\u00e7ada em v\u00e1rios pontos; a rigidez e espessura do seu fundo. O refor\u00e7o na base das laterais. E a\u00ed que eu vi que aquele ponto onde coloquei a m\u00e3o, meu primeiro contato, era realmente a parte com menor espessura, pois era o ponto da canoa que recebe menos estresse mec\u00e2nico quando est\u00e1 em uso. Ela na verdade era perfeita! Linda, leve e robusta!! Essa canoa seria o nosso transporte, na qual ir\u00edamos confiar nossas vidas por mais de 3 meses, em situa\u00e7\u00f5es das mais adversas de \u00e1gua e clima. Eu batizei a canoa com o nome da minha querida av\u00f3 materna escocesa: Ethel.
O Roberto Fernandes, da 360 Graus, que ia cuidar e alimentar o site durante nossa viagem tinha o contato com o Amyr Klink, pois tamb\u00e9m cuidava do site dele. Atrav\u00e9s do Roberto o Amyr Klink doou para o nosso projeto uma grande quantidade de comida liofilizada que a Nutrilatina havia produzido e patrocinado para a sua viagem de veleiro ao redor do mundo na regi\u00e3o da Ant\u00e1rtida, e que havia sobrado. Isso foi muito bem vindo, pois ter\u00edamos como levar comida leve e sem necessidade de refrigera\u00e7\u00e3o, sem contar a grande economia que far\u00edamos no gasto com comida ao longo do caminho. Recebemos tamb\u00e9m v\u00e1rias caixas de barrinhas de cereais Nutry. Aos poucos, e cada vez mais pr\u00f3ximo da data de partida, o essencial estava gradualmente sendo resolvido. Gra\u00e7as ao nosso esfor\u00e7o, incluindo a grande ajuda e dedica\u00e7\u00e3o da noiva do Carlos, a Alessandra Bonaf\u00e9, que agilizou e correu atr\u00e1s de tantos contatos, parcerias e imprensa.<\/p>
A canoa e os remos, nossos principais coadjuvantes, j\u00e1 estavam com a gente. Determinamos ent\u00e3o finalmente a data de in\u00edcio: Seria no s\u00e1bado dia 5 de junho, dia Mundial do Meio Ambiente. Fiz contato com o subprefeito de Sousas e reservei a Pra\u00e7a Beira Rio para a manh\u00e3 de nossa partida. A imprensa foi avisada e convidamos nossos amigos, conhecidos e parceiros do projeto para acompanharem a nossa partida. E tamb\u00e9m come\u00e7amos a divulgar o site para quem quisesse acompanhar a expedi\u00e7\u00e3o ao longo dos meses. (Na \u00e9poca era www.remar.com.br, e atualmente \u00e9 www.remarateomar.com)<\/p>\n
ENTRE A F\u00c9 E A LOUCURA<\/b><\/h4>
Um ano e meio de preparativos. Desde o dia que resolvi que ia descer remando at\u00e9 Buenos Aires, esse projeto passou a ser um foco de aten\u00e7\u00e3o constante pra mim. Eu sei que muitos amigos acharam que eu tinha enlouquecido por causa dessa ideia. Enlouquecido no sentido de ter perdido no\u00e7\u00e3o da realidade, de ter perdido no\u00e7\u00e3o do que \u00e9 vi\u00e1vel, do que \u00e9 poss\u00edvel. Enlouquecido no sentido de me tornar insensato. Mas tudo bem. A gente prova o poss\u00edvel atrav\u00e9s do exemplo. Essas coisas apenas n\u00e3o fazem parte da rotina da maioria das pessoas. Eu aprendi faz tempo a jamais dar ouvidos para quem nunca ousou abrir as pr\u00f3prias asas ao vento. At\u00e9 acontecer e definir a data de partida, realmente parecia a busca por um sonho insano aos olhos dos outros. Uma busca insensata por uma utopia. Projeto remar at\u00e9 o mar... Projeto remar at\u00e9 o mar. Esse foi meu assunto predominante por um ano e meio. Quantas vezes essa fala saiu da minha boca, com amigos e com a namorada: Projeto Remar At\u00e9 o Mar.
O namoro com a Janaina j\u00e1 tinha terminado em novembro de 1998. Naturalmente cada um seguiu consciente o seu caminho. Ficou o respeito, admira\u00e7\u00e3o e o carinho. Naquele per\u00edodo de um ano que namoramos a Janaina escutava sempre \u201c...projeto remar at\u00e9 o mar\u201d. At\u00e9 eu n\u00e3o aguentava mais, imagina ela. N\u00e3o foi f\u00e1cil pra quem estava comigo. Amigos me julgavam meio perdido. Acreditar em si pr\u00f3prio quando se tem uma vis\u00e3o que os outros n\u00e3o compartilham j\u00e1 \u00e9 dif\u00edcil. Imagina para os outros acreditarem em voc\u00ea. Mas deu certo. Ter tido f\u00e9, esperan\u00e7a e paci\u00eancia valeu a pena. Duas semanas antes de come\u00e7ar a viagem eu liguei pra Janaina, que j\u00e1 estava noiva e com casamento marcado, pra dizer que o Projeto Remar At\u00e9 o Mar ia deixar de ser apenas projeto. Agora era Expedi\u00e7\u00e3o Remar At\u00e9 o Mar, com data de partida marcada para o dia 5 de junho. Ela veio em casa pra gente se despedir, e eu pude mostrar o quanto tudo estava se concretizando \u2013 A canoa que seria utilizada estava l\u00e1, e tamb\u00e9m os equipamentos obtidos gra\u00e7as \u00e0s empresas que estavam acreditando no projeto. Falei sobre o tanto de gente envolvida e a propor\u00e7\u00e3o que o meu projeto havia tomado. Eu sentia que devia isso a ela. Algo em mim quis dizer pra ela que ela n\u00e3o tinha perdido tempo com um mero sonhador. Mas que eu precisei de tempo para fazer o meu sonho acontecer. E tive que fazer sacrif\u00edcios. E foi uma paz pra mim poder fazer isso, mostrar pra ela que finalmente tinha dado certo. E ela tamb\u00e9m tinha boas not\u00edcias de seus sonhos se concretizando: Assim como eu come\u00e7aria a expedi\u00e7\u00e3o no s\u00e1bado dia 5 de Junho, ela iria se casar no s\u00e1bado seguinte, dia 12 de Junho, e iria se mudar com o marido para os Estados Unidos. Sou grato acima de tudo pela amizade e respeito m\u00fatuo que tivemos o privil\u00e9gio de exercer. E sinto que teve algo de grandioso e verdadeiro em cada um saber seguir o seu caminho, e ter aproveitado para crescer um com o outro enquanto est\u00e1vamos juntos.<\/p>\n
N\u00c3O FALTAVA MAIS NADA<\/b><\/h4> [caption id=\"attachment_1164\" align=\"alignleft\" width=\"300\"] Primeiras impress\u00f5es da canoa: Na piscina.[\/caption]
Nas semanas e dias antes da data de partida da viagem eu e o Carlos testamos os equipamentos e a canoa carregada dentro da piscina. Testamos a impermeabilidade das barricas e bolsas estanques. Idealmente tudo na canoa deve ficar acomodado e preso de maneira que se ela virar em qualquer momento nossa \u00fanica preocupa\u00e7\u00e3o ser\u00e1 desvirar a canoa, nadar at\u00e9 alguma margem puxando ou empurrando ela e depois tirar a \u00e1gua. E continuar remando. Mesmo tombada a canoa cheia de \u00e1gua n\u00e3o afunda, pois tem ar aprisionado nas bagagens o suficiente para garantir que o conjunto todo continue boiando como uma pe\u00e7a s\u00f3. A \u00faltima coisa que eu iria querer fazer \u00e9 sair catando um monte de equipamento molhado boiando no meio de um rio ou represa. <\/p>
Ent\u00e3o tudo foi projetado para ficar preso na canoa e seco caso ela virasse. Por isso v\u00e1rios testes e estudos de arranjos e amarra\u00e7\u00e3o dos equipamentos. Tentamos pensar em tudo que poderia dar errado e como evitar e como remediar. O que fazer em caso de chuva, pra n\u00e3o encher a canoa de \u00e1gua. Em caso de ondas. Tentamos antecipar v\u00e1rios cen\u00e1rios, e o que poder\u00edamos fazer para resolver o problema de cada um. Que equipamento ou acess\u00f3rio ou procedimento seria colocado em pr\u00e1tica. Foi um exerc\u00edcio e planejamento para dar a menor chance de acontecer falhas que poderiam comprometer a expedi\u00e7\u00e3o.<\/p>
A natureza das \u00e1guas que formam um rio \u00e9 escorrer pelo relevo na passagem de menor resist\u00eancia, rumo abaixo, \u00e0s vezes preenchendo lagos ou represas, mas sempre com a tend\u00eancia de continuar escorrendo e chegar at\u00e9 algum mar ou oceano. Como diz ent\u00e3o o s\u00e1bio ditado chin\u00eas: \u201cA n\u00e3o ser que a gente mude de dire\u00e7\u00e3o, a tend\u00eancia \u00e9 a gente chegar aonde estamos indo\u201d.<\/p>
Canoa e remos, check. Remos reserva, check. Um rio longo e vasto como uma extensa estrada aberta e desimpedida, check. Sa\u00fade. Disposi\u00e7\u00e3o. Comida para meses. Apoios estabelecidos. Local, data e hor\u00e1rio de partida estabelecidos, check, check, check, check, check, check... Liberdade para partir? Tempo para se viver? N\u00e3o faltava mais nada. O mais complicado passou. N\u00f3s fizemos, e nos tornamos prontos para come\u00e7ar a remar at\u00e9 o mar.
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