Dia 079 – Costa Del Talar > Esquina
Percurso: Rio Paraná
Início: Costa Del Talar, praia curral, km 885, 29° 46.762’S 59° 37.044’W
Final: Esquina, Camping Mantilla, km 853, 30° 0.549’S 59° 31.976’W
Hoje: 33.4 km
Total Acumulado: 2384.0 km
Chegando em Esquina – Ou Vai ou Racha
Carlos – Acordei mais cedo, ainda era escuro quando escutei o gotejar na barraca e um barulho de vento na copa das árvores. Saí da barraca só para confirmar minhas suspeitas, e vi um tempo muito ruim se aproximando e começou a chover, mesmo assim fiz o café. Saímos após a chuva acabar, por volta do meio dia, e decidimos seguir até Esquina, a próxima cidade. Todos devem já estar cansados de ler sobre muito vento, ondas, etc., mas este dia realmente a coisa ficou feia. Logo que saímos demos de cara com um sudoeste de entortar antenas e ondas de 2 metros, que acumulam tamanho devido a corrente do rio que vem em oposição. Para se ter uma ideia do vento, se a gente parasse de remar o mesmo nos levava para trás , numa corrente de aproximadamente 5 Km/h.
Alessandro – Nossa aproximação da cidade de Esquina, na margem esquerda do rio, foi muito sofrida. Mais ou menos nos últimos dez quilômetros do percurso de hoje nós pegamos um vento contra muito forte, prejudicando muito o rendimento do nosso avanço. Vale observar que não é só o vento contra que tenta nos empurrar para trás. Mas esse vento empurra também a superfície da água e assim faz as ondas crescerem. E um vento muito forte acarreta em ondas cada vez maiores. Uma coisa é você remar subindo e descendo grandes marolas suaves, outra coisa é subir em ondas curtas e despencar logo em seguida, de tão picadas que são. Chuva, vento forte contra e ondas grandes. A gente remava e remava e era difícil a gente se convencer de que estávamos fazendo algum progresso. Mas não havia alternativa. Até mesmo encostar na margem não dava, pois não tinha nenhum lugar viável. A única opção era persistir. A gente sabia que em algum momento a gente ia chegar numa entrada de canal à esquerda. E foi mais de uma hora passando um perrengue quase desesperador. Mas eu lembro que em vários momento eu sorria de satisfação, porque afinal também não deixava de ser uma sensação inusitada e divertida. Eu escolhi estar lá, e estava contente por isso, apesar do sofrimento trazido por aquelas condições.
Desistir e parar de remar não era uma opção. Toda vez que uma onda nos levava para o alto a gente mirava na direção do que a gente acreditava ser a entrada do canal, e enquanto estávamos na parte baixa, cercados por paredes de água, a gente tentava manter a proa da canoa aprumada naquela direção. E assim foi, por exaustivos momentos, tomando porrada das ondas, encharcados pela chuva e castigados pelo vento que a gente dobrou por uma esquina de pedras à esquerda e então tudo se acalmou. Saímos do rush das ondas, como um cachorro perdido que consegue escapar e sair da travessia insana de uma avenida tumultuada de carros barulhentos no centro de uma grande cidade. E então seguimos mais um pouco por um canal, com a água muito mais tranquila e sem ondas, e agora com um vento lateral vindo da direita, mas pelo menos não contra. Logo nós encostamos a canoa nas margens de uma prainha e desembarcamos no Camping Mantilla, finalmente são e salvos em Esquina.