Dia 064 – Permanência em Rincón Ombu Chico


Percurso: Represa de Yaciretá, Rio Paraná
Permanência em: Destacamento Rincón Ombu Chico – km 1.539, 27° 24.595’S 56° 15.906’W
Percorrido hoje: 0.0 km
Total Acumulado: 1750.9 km
Diferença Entre Correr e Agarrar – Me Adaptando ao Espanhol Argentino
Alessandro – Essa noite choveu e ventou muito! Pela primeira vez fiquei preocupado com o chacoalhar da barraca durante a tempestade noturna. Escutava-se pingos grossos acertando a lona da barraca e o vento ao longe e perto uivava violentamente! Lá pelas duas da manhã percebi que infiltrou um pouco de água pelo fundo da minha barraca, que a essa hora estava dentro de uma poça de água que fora acumulada pela lona colocada como proteção abaixo do chão da barraca. A chuva foi muito forte!
O dia amanheceu ainda com bastante vento sul, o que de cara já inviabilizou nossa remada. Na represa de Yacyretá via-se os tradicionais “carneirinhos”, que são as cristas das ondas altas rasgadas pelo vento forte. Havia nuvens escuras e baixas espalhadas por cima da represa até o horizonte, mas estas foram empurradas para longe pelo vento, resultando num dia de sol com um ar ventoso, mais frio que ontem e cristalino.
Nosso acampamento estava localizado nas imediações do destacamento naval de Ombu. Então passamos boa parte do dia com o pessoal dessa Prefectura Naval. Pela manhã tivemos uma oportunidade interessante de acompanhar a manutenção dos barcos sendo feita.
Um dos barcos de madeira da Prefectura estava com um vazamento, então eles realizaram um procedimento de impermeabilização. Eles colocaram enchimentos flexíveis nas fendas e espaços entre as tábuas do fundo do barco, no caso umas cordinhas finas de algodão ou sisal. Essas cordinhas foram bem comprimidas dentro das fendas. E depois o piche foi derretido dentro de uma lata numa fogueira e esse piche derretido foi derramado nas fendas, encharcando os cordéis e transbordando um pouco para criar uma camada completamente aderida a madeira, flexível e impermeável. Foi muito interessante acompanhar essa técnica.
Isso permitiu restaurar a impermeabilidade do fundo dos barcos de madeira.
Depois disso, já na hora de comer, o pessoal da Prefectura Naval foi muito legal e nos convidou para almoçar. O almoço, feito em panela de ferro num fogão a lenha, foi uma bela caldeirada de carne, arroz, legumes e regado de uma conversa bem descontraída e divertida. Consegui até contar uma piada em castelhano! Para aprender uma nova língua não se deve ter medo de passar o ridículo por falar errado. Uma vez deixado esse medo de lado, o processo de aprendizagem se torna mais rápido e mais divertido. Exemplo: Depois de aprender em espanhol que a palavra “correr” significa “pegar”, e usar essa palavra normalmente até esse dia, descobri ontem que aqui na Argentina essa palavra significa algo como “transar”, no sentido mais vulgar!! Imagina o que as pessoas com as quais conversei até agora não pensaram quando eu usava “correr” em uma frase corriqueira..! Dou risada até agora!
No destacamento de Ombu foi talvez o primeiro lugar onde não vi ninguém com uma cuia de chimarrão constantemente. Aqui na Argentina o chimarrão é conhecido como mate, e TODO mundo toma. Chega a ser engraçado para quem não está acostumado. Quando em Posadas eu percebi isso andando nas ruas: As pessoas levam com elas a cuia com a erva mate crua dentro mais o “canudo” e, junto a isso, uma garrafa térmica com água quente. Em todo lugar isso é muito comum. É como ver alguém por aí levando um maço de cigarros. Até o Carlos já aderiu ao mate. Compramos uma cuia e erva. Eu ainda não me adaptei muito porque logo que começamos a tomar meu estômago não estava muito bem e então vou esperar mais um pouco para não associar o mal estar com a erva mate. Em Posadas, na telefônica onde passei o material para o site da internet, conversei com uma garota que estava tomando chimarrão, curioso a respeito do costume. Ela disse que toma o dia inteiro! Lógico que perguntei quantas vezes ela vai ao banheiro, porque ingerindo tamanha quantidade de líquido diariamente deve dar um aperto… “Nada exagerado, poucas vezes”, respondeu ela, bem humorada.
Essa região já faz parte da província de Corrientes. Antes estávamos em Missiones. Província na Argentina é o equivalente a estado no Brasil.